Murganheira , uma história de talento e tempo

Suportada nos seus 50 anos de história, a empresa possui 30 hectares de vinhas próprias no vale do Varosa (Douro Sul) e compra uvas a cerca de 100 viticultores da região, comercializando anualmente cerca de 750 mil garrafas de espumante.

Uma das imagens de marca da Murganheira e do seu enólogo e administrador, Orlando Lourenço, é a constante inovação e abertura à experiência, que se têm traduzido no lançamento de novos espumantes feitos com variadíssimas castas. Outra característica é a aposta em vinhos com uma grande amplitude de consumo.

A ligação de Orlando Lourenço à Murganheira começou por acaso quando era furriel comando em Angola e ajudou Acácio da Fonseca Laranjo, dono da fábrica têxtil portuense A. Laranjo e das Caves da Murganheira a vender o espumante da casa para as Forças Armadas.

O sonho de ir trabalhar e ter uma pequena quota na Murganheira que ali nasceu e que Laranjo alimentava viu-se adiado pela ocupação das caves e da têxtil no 25 de abril de 1974.

Orlando Lourenço deu aulas durante 16 anos mas o sonho de um dia ir trabalhar para a Murganheira não morreu. A viúva de Acácio Laranjo, prometera-lhe que não deixariam de lhe falar se um dia vendessem as caves. E assim foi, quando, em meados dos anos de 1980, Lousada Soares (gestor da Unicer e o genro de Laranjo) pôs as caves à venda, Orlando tratou de as comprar.

Sócio trabalhador, Orlando já tinha umas luzes do negócio, e procurou aprender tudo com os melhores. A partir de 1986, Reims, onde bate o coração da região demarcada de Champagne, passou a ser a sua meca - e George Hardy, reputado universitário e especialista na arte descoberta pelos monges de Cister, o seu mentor. «Cumpri sempre à risca o que ele me ensinou. Nunca houve simplificação. Apenas aperfeiçoamento», explica Orlando, que fez as vendas da empresa saltarem com fragor, tal como uma rolha de um bom champanhe acabado de abrir.

É por usar o método champanhês, com rigor e profissionalismo, numa região com excelentes condições climáticas e geológicas, que os espumantes produzidos por Orlando Lourenço não ficam nada a dever aos champanhes franceses correntes. «Em provas cegas, os Murganheiras já batem os Moët & Chandon. Reconheço que há champanhes de elevadíssima qualidade, como o Krug, o Dom Pérignon ou o Cristal Roederer, mas, no geral, não temos nada a aprender com os franceses», garante Pedro Dias Costa, 47 anos, gestor e sócio de Orlando na Sociedade Agrícola da Varosa, que além de ser dona do Gotha dos nossos espumantes (Raposeira e Murganheira), também controla a alentejana Tapada do Chaves.

Távora-Varosa, foi a primeira região demarcada do espumante e apresenta condições naturais melhores do que as de Champagne - que apenas leva a melhor num pormenor, a riqueza em cré do seu terroir. Com uma altitude média de seiscentos metros, um microclima que quase dispensa o uso de produtos fitossanitários - «em Champagne, as vinhas chegam a ser pulverizadas 25 vezes por ano, cá chega fazê-lo umas duas ou três vezes», explica Orlando - e uvas das castas adequadas, que garantem o pH e acidez necessários, a região de Távora-Varosa produz dos melhores vinhos-base do mundo para transformar em espumante. Depois, é preciso ter calma, não ser ganancioso e fazer as coisas by the book.

Em 2002, a Raposeira foi posta à venda pela Pernod-Ricard e comprada pela Murganheira que anulava o seu concorrente no mercado.

A Murganheira é uma empresa que consubstancia no modelo de negócio o modelo de competitividade que o COMPETE 2020 quer estimular através dos seus instrumentos e da incorporação de variáveis na análise de projectos, a saber : uma competitividade efetiva das empresas, assente na eficiência produtiva capaz de gerar - através da qualidade, produtividade e inovação – valor e diferenciação.

Uma empresa que revela um enfoque na sofisticação de produtos e processos, na inovação e na melhoria do ambiente de negócios doméstico e na sua adequação aos ditames de competitividade externa.

«Apostamos na qualidade. O resto vem a seguir. Somos pacientes. Fazemos as coisas por amor, não pelo dinheiro», os lucros são sempre reinvestidos e por isso a minúscula Sociedade Agrícola e Comercial da Varosa, que em 1986 vendia quarenta mil garrafas, tem agora um volume de negócios de 13 milhões de euros/ano, dos quais 95 por cento são feitos com os espumantes, um mercado que lidera com uma quota de sessenta por cento, assegurada pela venda de 1,8 milhões de garrafas de Raposeira e 1,1 milhões de Murganheira.

( Ler : “O futuro às bolinhas”| Jorge Fiel | DN  ) 

25/01/2016 , Por Paula Ascenção
Presidente do COMPETE 2020
Rui Vinhas da Silva