Elisabete Rita, um percurso no Associativismo, uma mulher que vê no sector Industrial grande possibilidade de progressão

 


 


Qual tem sido o fio condutor da sua carreira?

O território e acima de tudo o desafio de poder contribuir para novas formas de olhar e planear o território estiveram, sem dúvida, na base do meu percurso profissional. A minha formação de base é em planeamento regional e urbano, em que o espaço territorial e o desenvolvimento económico caminham lado a lado. Ao trabalhar na AIDA iniciei um percurso profissional desafiante onde o saber académico permitiu desenvolver projectos inovadores, aliando o conhecimento territorial com a necessidade de dar resposta às cada vez mais exigentes necessidades das empresas e à necessidade, sempre actual, de atrair investimento para a região.

A AIDA, associação jovem e dinâmica, mostrou-se sempre aberta a novos desafios tendo apostado em áreas não usuais no associativismo mas que vieram a revelar-se indispensáveis nas novas políticas de apoio à decisão permitindo dar resposta às novas exigências de competitividade e inovação, associadas à crescente necessidade de atracção territorial. E assim, tive a oportunidade de desenvolver um projecto muito interessante relacionado com Sistemas de Informação Georreferenciada aplicados à indústria e à Região de Aveiro, no sentido de auxiliar potenciais investidores a encontrar lotes disponíveis e que, mais tarde, viria a estar na génese do Global Find implementado pela AICEP. A partir daí direccionei a minha carreira para o acompanhamento do sector industrial através do movimento associativo, acompanhamento esse que se concretiza não só no contacto directo com as empresas como com as entidades com responsabilidade ao nível do desenvolvimento e implementação de políticas relacionados com o exercício da actividade empresarial. Ao longo deste percurso fui, naturalmente, sentindo a necessidade de me especializar em áreas relacionadas com o desenvolvimento e estratégia económica nomeadamente com o MBA em Business Strategy da Escuela de Negócios Caixa Nova em parceria com Georgetown e mais recentemente com o Mestrado em Relações Internacionais.

Trabalhando na Região de Aveiro, rica no que à diversidade de recursos naturais e multiplicidade de sectores de actividade diz respeito, o fio condutor da minha carreira tem pois sido o desenvolvimento do território com enfoque nas empresas e condições de que necessitam para se tornarem competitivas.

 

A indústria é apelativa? Como atrair mais jovens e reter talentos?

Antes de mais, importa desmistificar a imagem da indústria junto dos jovens e, acima de tudo, das suas famílias. Portugal abandonou a indústria durante muitos anos, durante os quais se instituiu a ideia de que o sector dos serviços era aquele que dava maior status. A crise económica que se veio a instalar provou o contrário e percebeu-se que há que retomar a produção de bens transacionáveis. Entretanto ficámos com grande carência de quadros intermédios e profissões especializadas pelo que se batalha, presentemente, para suprir essas carências num processo que é naturalmente moroso. Apesar deste cenário, ainda há um factor cultural a superar pois se perguntarmos a um pai qual a profissão que gostaria que o seu filho tivesse dificilmente encontraríamos um que respondesse soldador ou serralheiro. Este é um trabalho que tem de ser feito nas escolas e passa, nomeadamente, pelo reforço do ensino formação profissional. Para além disso é essencial que o território seja atractivo nas mais variadas vertentes, designadamente infra-estruturas, transportes, saúde, cultura e lazer, ao ponto de fixar as famílias e os seus jovens. Isto pressupõe, em 1.ª linha, que o território seja atractivo aos olhos dos potenciais investidores.

Passando a redundância diria que sendo os jovens o futuro há que mostrar-lhes que o futuro da economia de mercado passa pela indústria e que no sector, contrariamente ao que acontece noutros, existem possibilidades de progressão na carreira.

 

Pensa que é uma líder diferente por ser mulher? Acredita que existe uma liderança masculina e uma liderança feminina?

Creio que não serei a melhor pessoa para responder a essa questão mas a equipa que trabalha comigo. A título de curiosidade, posso dizer que a equipa da AIDA é constituída por 25 mulheres e 2 homens, o que se se deve a mero acaso e não tem qualquer intuito de discriminação positiva até porque acredito que as mulheres são capazes de se afirmar por si e sem necessidade de quotas. Todas as lideranças são diferentes pelo simples facto de todos possuirmos características distintas. Não se pode, definitivamente, generalizar. O que existe, sim, por força de questões culturais são diferentes percepções relativamente às características que se atribuem (tradicionalmente) a homens e mulheres. Depois de se conseguir ultrapassar a barreira das ideias pré-concebidas, consegue-se entender as diferenças e constatar que não se devem a uma questão de género mas de personalidades quer do líder, quer da equipa em causa.

 

É possível conciliar uma carreira intensa com a vida pessoal?

Não só é possível como vital, sob pena de não se conseguir ser nem bom profissional, nem bom familiar ou amigo. No meu ponto de vista, a realização profissional pressupõe a pessoal e vice-versa. Claro que exige muita disciplina e cedências já que, contrariamente ao que às vezes precisava, o dia só tem 24 horas. A questão é encontrar um ponto de equilíbrio o que nem sempre é fácil, desde logo porque com as novas tecnologias estamos permanentemente contactáveis e instalou-se na sociedade uma exigência de resposta imediata.

 

Que conselho deixaria a todos (as) que escolhem a indústria para fazer um percurso profissional?

Há tempos li uma entrevista ao CEO de uma empresa que dizia qualquer coisa como “a vida profissional deve ser encarada como uma maratona e não como um sprint”. Penso que esta imagem é bem impressiva daquela que deve ser a abordagem a um qualquer percurso profissional. É essencial que se tenha em mente que os contextos económicos-sociais estão em constante mutação obrigando as empresas e os seus recursos humanos a uma grande capacidade de adaptação. Abraçar a indústria é, assim, estar preparado para sair da zona de conforto e disponível para mudanças. A par com a constante actualização de conhecimentos é também, cada vez mais, essencial trabalhar ao nível das competências socio comportamentais, as chamadas soft skills . Há muito que os empregadores deixaram de olhar somente às capacidades técnicas, precisamente devido à necessidade de ser criativo na criação de soluções e resolução de problemas a que obriga a globalização. A capacidade de trabalhar em equipa e gerir o tempo são também fundamentais. Para além disso, e como em tudo na vida, há que ser resiliente. Concluindo como comecei, quem escolhe a indústria deve ter consciência que optou por ser maratonista e não sprinter.

06/03/2018 , Por Célia Pinto