Inovação na Economia Azul : o papel do COMPETE 2020

O mar é parte intrínseca da nossa história como país, da nossa forma de vida e da nossa economia, considerando que Portugal tem uma faixa costeira de 1.187 km e a terceira maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Europa, 18 vezes superior ao território continental do país.

O mar – oceano atlântico - fazendo parte da nossa identidade e cultura é, um elemento de ligação privilegiada entre as várias Regiões do País e deste com a Europa e o resto do Mundo e marcou decisivamente o desenvolvimento de Portugal, com as trocas comerciais, culturais e científicas durante a época dos descobrimentos.

Num contexto de crise económica que marcou os últimos anos da história europeia, qualquer oportunidade de crescimento económico e criação de emprego deve ser alavancada. Os mares e os oceanos europeus no geral e o atlântico no nosso particular oferecem essas oportunidades se os olharmos em todas as vertentes e investigarmos todas as suas potencialidades. São ainda uma imensidão de recursos por explorar à medida que o aumento da população mundial pressiona mercados em busca de alimentos, energia e medicamentos. Desde a produção de energia limpa até ao desenvolvimento de indústrias sustentáveis em áreas tão diversas com a biotecnologia e a aquacultura, a inovação na Economia Azul é crucial para a Europa e para Portugal.

Consciente das potencialidades dos oceanos, a Comissão Europeia orientou um conjunto de políticas específicas para estimular o conhecimento e a exploração sustentável dos mesmos. O potencial de crescimento é imenso: em 2014 trabalhavam no setor da energia eólica cerca de 58 mil pessoa, correspondendo a uma produção de 1% do total da electricidade na Europa . Em 2020 , a Comissão Europeia calcula que estes valores cresçam para cerca de 200 mil empregados e 30% das novas necessidades energéticas. Este acréscimo na energia eólica vai ter ainda impatos no conhecimento científico e aumentar as oportunidades para a investigação, proteção marinha e aquacultura.

O crescimento da investigação nos mares permite-nos ser optimistas em relação a um conjunto de projeto de investigação, a maioria dos quais financiados por Fundos da União Europeia, que permitirão trazer do laboratório para o mercado soluções inovadoras, sobretudo em áreas com a biotecnologia, as energias renováveis, os recursos minerais e a aquacultura.

 

Em Abril deste ano a Comissão Europeia lançou uma nova iniciativa que permitirá à UE e aos países vizinhos trabalhar em conjunto para aumentar a segurança marítima, promover o crescimento azul sustentável e a criação de emprego e preservar os ecossistemas e a biodiversidade na região do Mediterrâneo Ocidental.

De notar que a biodiversidade marítima está sujeita a fortes pressões. Segundo um relatório recente de cientistas do Centro Comum de Investigação, nos últimos 50 anos, a biodiversidade marítima sofreu uma perda de 50 %. Há ainda que referir as recentes preocupações de segurança decorrentes do aumento da migração de Sul para Norte.

A iniciativa é o resultado de anos de diálogo entre dez países do Mediterrâneo Ocidental, prontos e decididos a trabalhar em conjunto nestes interesses partilhados para a região: cinco Estados-Membros da UE (França, Itália, Portugal, Espanha e Malta) e cinco países parceiros do Sul (Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia). Dá seguimento à Declaração Ministerial sobre a Economia Azul, aprovada pela União para o Mediterrâneo (UM) em 17 de novembro de 2015.

Objetivos da iniciativa Esta iniciativa, que promove a cooperação entre os dez países em causa, tem três objetivos principais:

  • Um espaço marítimo mais seguro : cooperação entre os serviços nacionais de guarda costeira e a resposta a acidentes e derrames de petróleo. As ações específicas centram-se na modernização das infraestruturas de controlo do tráfego, na partilha de dados e no reforço das capacidades.
  • Uma economia azul inteligente e resiliente : recolha de dados novos, a biotecnologia e o turismo costeiro.
  • Uma melhor governação dos mares: ordenamento do território, o conhecimento do meio marinho, a conservação dos habitats e a pesca sustentável.

A iniciativa será financiada com fundos e instrumentos financeiros aos níveis internacional, da UE, nacional e regional, que serão coordenados e complementares. Tal deverá criar impulsão e atrair financiamento de outros investidores públicos e privados.

O COMPETE 2020 , converge para esta orientação e apoia, no contexto do Portugal 2020, os projetos de investigação e desenvolvimento que contribuam para conhecer as novas potencialidades do mar.

Uma economia marítima próspera para Portugal passa pelo aproveitamento do potencial existente ao nível da biodiversidade oceânica, das fontes de energias renováveis, dos centros de investigação modernos e altamente qualificados, dos transportes marítimos e portos, dos recursos pesqueiros, do turismo, entre outros novos usos que o mar pode vir a ter no futuro.O COMPETE 2020 tem o seu papel no conjunto alargado de instrumentos sinérgicos do Portugal 2020 orientados pelos princípios da Economia Azul.

Nesta edição da Newsletter vamos apresentar-lhe alguns dos projetos de investigação que cruzam com as prioridades da Economia do Mar definidas na Estratégia Nacional para uma Especialização Inteligente:

 

Projeto SIDENAV

Este projeto tem por objetivo a validação e aplicação de uma tecnologia que foi desenvolvida no âmbito do projeto TURTLE (financiado pelo QREN) que possibilita a exploração de recursos biológicos e geológicos (recursos minerais) a grandes profundidades marítimas, quer na coluna de água quer no solo e subsolo sob jurisdição Portuguesa (por exemplo da Dorsal Meso-Atlântica). A ambição do projeto SIDENAV é inovar em técnicas operacionais para o mar profundo, permitindo que o acesso a recursos do Atlântico possa ocorrer de uma forma segura, ambientalmente amigável e industrialmente viável. O SIDENAV é desenvolvido por um consórcio, formado pela A. SILVA MATOS - Metalomecânica SA; o INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência; o ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto; o CINAV – Centro de Investigação Naval e o IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

 

Projeto MareCom: Redes e Serviços Marítimos Comunitários

O objetivo principal do projeto MareCom é o desenvolvimento de uma solução de comunicações marítimas de elevada disponibilidade, banda larga e baixo custo, baseada no protocolo IP que permita:

  1. servir as comunidades que operam em ambiente marítimo - com ligações fiáveis e de banda larga
  2. a convergência com o cenário de comunicações em terra.

A solução desenvolvida no projeto será, na fase final, testada recorrendo a duas instalações piloto no mar, usando embarcações da Marinha Portuguesa e da Cooperativa Propeixe, copromotor e parceiro do projeto, respetivamente.

O projeto é liderado pela Wavecom - Soluções Rádio, S.A., em co-promoção com o INESC Porto - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto, a Marinha Portuguesa e a Ubiwhere.

Projeto “Antiincrustante: Superando problemas ambientais associados aos agentes anti-incrustantes”

A bio-incrustação marinha é um fenómeno que causa graves problemas e enormes prejuízos às indústrias do setor marítimo em todo o mundo pelo que têm sido utilizadas tintas anti-incrustantes para combater este processo. No entanto, estas apresentam uma elevada toxicidade para o ambiente marinho pelo que o seu uso, na maioria dos casos, foi proibido.

Desenvolver novas substâncias inspiradas em produtos sulfatados de origem marinha capazes de impedir a bio-incrustação em barcos e com um reduzido risco ambiental são os objetivos deste projeto liderado pela Universidade do Porto - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), em parceria com a Faculdades de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e a Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências (FCiências.ID).

Projeto U-Safe

A Noras Performance desenvolveu e patenteou a boia salva-vidas U-Safe, um equipamento autopropulsionado e telecomandado que permite socorrer à distância, em qualquer condição de mar, com enorme rapidez e sem colocar em risco a vida do nadador-salvador. Este equipamento, em forma de U para facilitar a navegação, apresenta uma performance extraordinária, uma vez que funciona em

qualquer posição, estando ainda dotada de um sistema eletrónico próprio de navegação e orientação.

Antes de chegar ao mercado, a U-SAFE será formalmente apresentada no próximo dia 4 de novembro de 2017, durante a escala em Lisboa da próxima edição da Volvo Ocean Race, que começa a 22 de outubro em Alicante (Espanha) e termina em Haia (Holanda) em junho de 2018. Ao longo de oito meses, a U-SAFE acompanhará o roadshow da corrida, dando-se a conhecer a potenciais compradores e investidores. 

15/05/2017 , Por Paula Ascenção