Economia Circular| O COMPETE2020 avalanca projetos que reinventam o processo produtivo

Os últimos 150 anos de evolução industrial foram dominados por um modelo linear de produção e de consumo, em que os bens são fabricados a partir de materiais, vendidos, utilizados e depois assumidos como desperdício. Em face da forte volatilidade, da pressão da economia global, do volume de lixo que o mundo moderno produz e dos sinais de esgotamento de recursos naturais, emerge um modelo económico sustentado na reutilização dos produtos e componentes e num consumo pensado na regeneração e no redesign das peças: a economia circular. 

Pretende-se limitar o desperdício, repensar materiais, novas formas de produção e alinhar a procura com esta nova forma de produzir.

Uma economia circular é um sistema de produção regenerativo por opção e design. Substitui o conceito de fim de vida do produto pela restauração, envolve mudanças no uso de energia renovável, elimina o uso de químicos, que prejudicam a reutilização, e visa a eliminação de resíduos através da aposta no design de materiais, produtos, sistemas e modelos de negócios.

A Economia Circular ultrapassa o âmbito e foco estrito das ações de gestão de resíduos e de reciclagem, visando uma ação mais ampla, desde do redesenho de processos, produtos e novos modelos de negócio até à otimização da utilização de recursos (“circulando” o mais eficientemente possível produtos, componentes e materiais nos ciclos técnicos e/ou biológicos). Visa assim o desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, radicados em ciclos idealmente perpétuos de reconversão a montante e a jusante. Materializa-se na minimização da extração de recursos, maximização da reutilização, aumento da eficiência e desenvolvimento de novos modelos de negócios.

Os consumíveis são feitos de materiais biológicos e não tóxicos, com mínimo impacto na biosfera, a energia é renovável e os bens duradouros são recicláveis ao longo do seu processo de vida. Neste ciclo de produção nada se perde, tudo se transforma protegendo o planeta e melhorando a qualidade de vida das populações.

O World Economic Forum considera ser inevitável a evolução para a economia circular e de partilha, a qual separa os sistemas de produção, produção e consumo das restrições dos recursos naturais, optimizando a utilização dos activos e democratizando as oportunidades de criação de riqueza. Num contexto de contracção de crescimento, este novo modelo parece o caminho para conseguir um contra—ciclo positivo e sustentável.

A economia circular está na agenda da Estratégia Europa 2020, que pretende que nessa data a reciclagem de resíduos estejam nos 50%. Além de incluir uma nova proposta legislativa para os resíduos, o plano prevê que a economia circular crie dois milhões de postos de trabalho na Europa e que a produtividade dos recursos aumente 30% até 2030.

Esta transformação não é fácil e requer a colaboração global multi-stakeholder para a mudança de sistemas em larga escala (em finanças, tecnologia, cadeias de suprimento), combinada com a mudança específica de sistemas localizados (em cidades, províncias, países).

Nesta edição apresentamos lhe alguns projetos apoiados pelo COMPETE2020 que procuram esta mudança de paradigma de produção :

 

- Projeto MultiBiorefinery

MultiBiorefinery visa a promoção da bioeconomia Portuguesa através da valorização de subprodutos e resíduos florestais, agroalimentares e da pesca. É um projeto que procurará capitalizar e otimizar meios e recursos existentes e criar massa crítica para acelerar a produção de conhecimento e soluções para desafios societais, principalmente nos setores de saúde e alimentação, assegurando práticas amigas do ambiente.

É um projeto de investigação científica e de desenvolvimento tecnológico multidisciplinar apresentado por um consórcio de seis unidades de investigação:

CICECO - Instituto de Materiais de Aveiro da Universidade de Aveiro (UA);

Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (UM);

Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas - REQUIMTE - Rede de Química e Tecnologia - Associação (REQUIMTE-P);

iNOVA4Health - Programa de Medicina Translacional (iBET, CEDOC/FCM, IPOLFG e ITQB) - Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET);

Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Universidade de Coimbra (UC) e

Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

 

- Projeto POTATOPLASTIC

O projeto POTATOPLASTIC visa desenvolver um composto bioplástico biodegradável, à base dos subprodutos de batata, para substituir o plástico tradicional. O POTATOPLASTIC contribuirá assim para um menor uso de matérias-primas não-renováveis na produção de plásticos, reduzindo os custos económicos e ambientais da reciclagem destes últimos. Além disso, a indústria do processamento de batata beneficiará pela criação de uma atividade capaz de absorver grande parte dos seus resíduos e produtos secundários não reutilizados.

O projeto POTATOPLASTIC resulta de uma co-promoção entre a empresa ISOLAGO – Indústria de Plásticos, S. A. e a Universidade de Aveiro.

 

- Projeto Bicafé :

A Bicafé optou por selecionar uma opção sustentável para maximizar o rendimento da extração de compostos bioativos e a capacidade antioxidante dos extratos. 

Neste caso, dada a presença de cafeína na pele de prata, pretende-se proceder à sua extração de uma forma eficiente, mais rápida e sem recurso a solventes orgânicos, tendo em vista uma possível aplicação posterior em produtos alimentares, cosméticos e de higiene corporal. 

 

- Projeto McRICE

O projeto mcRice, tem um elevado potencial de valorização económica, centrado no desenvolvimento de novos materiais compósitos incorporando resíduos de casca de arroz, borracha e cortiça. 

Pretende-se combinar as melhores propriedades de cada um dos resíduos de casca de arroz, borracha e cortiça em materiais compósitos, com o objetivo final de desenvolver produtos com elevados níveis de desempenho, tais como de eco painéis, mantas resilientes, revestimentos de pavimento, difusores acústicos e apoios anti vibráteis, a aplicar em soluções construtivas. 

O projeto é executado por um consórcio liderado pela Amorim Isolamentos, e envolve a  LogAcústica, empresa de referência na prestação de serviços de Engenharia Acústica;a Flexocol, empresa especialista no desenvolvimento e fabrico de peças industriais em borracha e a ITeCons, Entidade do Sistema Científico e Tecnológico vocacionada para o desenvolvimento de novos sistemas e processos construtivos.

10/04/2017 , Por Paula Ascenção