A inovação em alimentos saudáveis e saborosos

O setor agroalimentar, caracterizado pelo conjunto de atividades de transformação de bens agrícolas e alimentares e de bebidas, da Indústria Alimentar (CAE 10 - Classificação portuguesa das atividades económicas, revisão 3) e da Indústria de Bebidas (CAE 11), ocupa um espaço importante na economia portuguesa e europeia.

Composta por 10 485 empresas e empregando cerca de 104 mil pessoas, esta indústria tem um volume de negócios de 14 600 milhões de euros, equivalente a 18,5% do total da indústria nacional. Este é um setor que se caracteriza pelo elevado número de pequenas e médias empresas (PME), no entanto, 71,6% da produção concentra-se nas médias e grandes empresas (Instituto Nacional de Estatística – INE, 2014b).

Na União Europeia a indústria agroalimentar é também a maior indústria, com um volume de negócios de 1 048 mil milhões de euros (equivalente a 14,6% do total da indústria transformadora europeia), sendo que 51,6% desse valor provém das PME. Este setor, em termos europeus, emprega cerca de 15,5% das pessoas ao serviço na indústria transformadora (Food Drink Europe, 2014). Tratando-se de um setor onde existe uma intensa concorrência, a Indústria Agroalimentar (IAA) tem vindo a ganhar notoriedade na economia nacional. Segundo a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA, 2014), desde há 20 anos a esta parte que uma grande revolução tem acontecido no dinamismo deste setor, acima de tudo derivada da abertura aos mercados externos a partir dos anos 90, que despoletou a necessidade deste setor se readaptar, fazendo ajustes importantes das suas estruturas produtivas para minimizar os efeitos da sua atividade no ambiente, bem como ao nível da certificação das empresas, ao adotar sistemas de controlo e garantia da qualidade e da segurança dos alimentos (FIPA, 2014).

Dados recentes mostram  a tendência de crescimento das exportações deste setor . Comparando dados de janeiro a agosto de 2017 com período homólogo de 2016, as exportações cresceram 13% , enquanto as importações cresceram 10% no mesmo período. ( dados INE disponíveis na página oficial da FIPA).

Trabalhando para aumentar as exportações ou para substituir importações as empresas nacionais apostam fortemente em factores diferenciadores e na divulgação dos produtos nacionais, olhando para a alimentação portuguesa e para os produtos endógenos como fator distintivo.

Nesta edição procuramos no espectro alargado dos instrumentos do COMPETE2020 mostrar projetos diferentes mas que olham para os alimentos e para alimentação como fator de diferenciação e motor de competitividade.

 

  • Programa de Valorização & Promoção Internacional da Gastronomia Portuguesa e dos seus Produtos Endógenos

Projeto desenvolvido pela  Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), que tem por objetivo promover internacionalmente a gastronomia e as empresas portuguesas são os grandes objetivos deste nosso programa, atuando como potenciador da economia, na medida em que valoriza e estimula o consumo dos produtos e serviços nacionais no mercado externo e qualifica o destino turístico Portugal.

Para o efeito este projeto envolve o levantamento profundo do património gastronómico português exclusivo das regiões de convergência e do receituário tradicional português (aperitivos/ entradas, petiscos, sopas, pratos de peixe, pratos de carne, sobremesas, outros), por forma a reinterpretar o mesmo, enquanto se acrescenta valor ao receituário através da incorporação de informação técnica diferenciada (valor nutricional dos alimentos, identificação de alérgenos, sugestões diversas, entre outros); a constituição da rede de restaurantes portugueses no mundo (Casas de Portugal); o desenvolvimento da  Plataforma Gastronómica de Portugal, que promoverá e dinamizará a gastronomia portuguesa, a rede de restaurantes portugueses no mundo e os produtos alimentares e agroalimentares nacionais de excelência.

 

  • Projeto Functional Tuna

O FunctionalTuna é um projeto centrado no desenvolvimento de conservas de atum funcionais inovadoras. Incorporando um conjunto de ingredientes (ácidos gordos ómega-3 ou outros) em quantidades suficientes para permitir uma resposta fisiológica, estas novas conservas deverão ter um impacto na proteção da doença cardiovascular.

Este novo produto destina-se a consumidores que demonstram uma particular preocupação com questões relacionadas com a manutenção da saúde e com a redução do risco de doenças, indo ao encontro das principais e mais recentes tendências de mercado ao nível dos alimentos funcionais.

O projeto Functional Tuna é promovido por um consórcio constituído pela Ramirez, pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (ESB) e pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

 

  • Projeto BioClarVino II

O projeto BioClarVino II pretende atingir a investigação industrial e o desenvolvimento final de um produto que irá munir os operadores do sector dos vinhos com uma ferramenta única, biológica e não alergénica com efeito preventivo e curativo a nível de oxidações nos vinhos, e com aplicabilidade a outros segmentos de vinho.

O BioClarVino II tem como objetivo principal o desenvolvimento de um Produto Enológico Inovador – um Extrato Proteico de Leveduras (EPL) desidratado que se posicione não só como uma alternativa à caseína ácida na colagem de vinhos mas também como um agente estabilizante de mais largo espectro, e que respeite os seguintes requisitos:Conservar-se na forma seca durante um mínimo de 3 meses;na forma seca, deve ter propriedades curativas e preventivas na oxidação de vinhos semelhante à caseína.

Para a concretização dos objetivos do BioClarVino formou-se um consórcio entre uma PME, a Proenol, e duas entidades do SCTN, oBiocante a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, apoiado por um produtor líder nacional, que testará os produtos desenvolvidos neste projeto.

 

  • Projeto FoodNanoSense

 

Na primeira pessoa a investigadora Susana Soares, do Departamento de Química da (FCUP), explica o projeto e as suas implicações e da relação entre Universidades e empresas.

Segundo Susana Soares, investigadora do Departamento de Química da (FCUP), "o projeto em questão assenta na compreensão do sabor dos alimentos, com foco em duas propriedades sensoriais, a adstringência e o sabor amargo. De uma forma mais específica, este projeto foca-se em uma classe específica de compostos, os compostos fenólicos (CF), e pretende determinar quais dos compostos existentes nos alimentos e bebidas são mais importantes para estas duas propriedades sensoriais e quais os mecanismos da perceção destas sensações. Para além disso, também é alvo de estudo, outros compostos naturais que poderão ser usados como opção para modular estas propriedades.

25/10/2017 , Por Paula Ascenção