AlgaValue: A valorização dos subprodutos do processo de produção de esqualeno e DHA por microalgas

        
Maria do Castelo Paulo | Responsável do AlgaValue

"Tem-se vindo a verificar, a nível mundial, uma tendência crescente no consumo de esqualeno, em parte proporcionada pelos seus reconhecidos benefícios para a saúde e pela sua variedade de aplicações. Contudo, o crescimento da indústria em redor deste recurso tem sido muito limitado, pela escassez e limitações das fontes de matéria-prima. Adicionalmente, é reconhecido o interesse e estratégia no aproveitamento e valorização dos sub-produtos e resíduos resultantes das biorefinarias, promovendo práticas mais sustentáveis e de valor acrescido.

O Projeto ALGAVALUE foi desenvolvido com o Apoio do COMPETE 2020 no âmbito da investigação e desenvolvimento. A utilização das microalgas heterotróficas como fonte alternativa à produção de esqualeno, abre portas aos grandes desafios da valorização desta fonte inesgotável de compostos bioativos como os ácidos gordos ómega 3, nomeadamente DHA e antioxidantes com elevado valor para o enriquecimento de produtos alimentares, novas aplicações biomédicas, cosméticas, farmacêuticas e nutracêuticas.

Os resultados alcançados pelo consorcio entre a empresa promotora e o IPMA, o IPLeiria e a Universidade de Aveiro mostram a qualidade e competência cientifica de todas as equipas envolvidas no projeto."

Enquadramento

Tem-se vindo a verificar, a nível mundial, uma tendência crescente no consumo de esqualeno, em parte proporcionada pelos seus reconhecidos benefícios para a saúde e pela sua variedade de aplicações. Dada a crescente consciencialização dos seus benefícios e do leque de opções que este composto reúne para aplicações a nível industrial, a sua comercialização mostra sinais de franca expansão. Contudo, a escassez de fontes de matéria-prima tradicionais para obtenção de esqualeno é um problema que afeta todo o mercado em torno deste composto de elevado valor, que procura incessantemente novos organismos e técnicas que permitam garantir o seu fornecimento.

A Depsiextracta – Tecnologias Biológicas, empresa promotora do projeto AlgaValue, desenvolveu um processo biotecnológico para produção de esqualeno, usando como fonte uma estirpe de microalgas heterotróficas que, em determinadas condições de crescimento, além de produzir quantidades significativas de esqualeno, produz outros compostos de elevado valor e interesse comercial.

No entanto, os custos associados a este processo biotecnológico são demasiado elevados quando comparados com os das fontes tradicionalmente conhecidas e utilizadas pela empresa, como o óleo de fígado de tubarão de profundidade e os resíduos da refinação física do azeite, levando a que o esqualeno obtido por microalgas possa ser um produto mais caro quando comparado com o esqualeno obtido pelas fontes clássicas.

De modo a rentabilizar as atividades, além de potenciar a produção do esqualeno, tornou-se necessário reduzir os custos elevados deste processo, valorizando cada subproduto gerado em cada etapa da produção das microalgas heterotróficas.

Desta forma, importa rentabilizar o processo de produção de esqualeno por microalgas, através da valorização de toda a cadeia de valor gerada ao longo do processo, minimizando a quantidade de resíduos e atuando em sinergia com outras empresas que poderão utilizar os subprodutos deste processo biotecnológico nas mais variadas aplicações, tornando assim o processo sustentável quer ao nível económico, quer ambiental.

O Projeto

De forma a viabilizar a produção de esqualeno por esta via, o projeto AlgaValue, promovido pela empresa Depsiextracta – Tecnologias Biológicas em consórcio com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o Instituto Politécnico de Leiria e a Universidade Aveiro, visa a valorização dos restantes compostos bioativos presentes na biomassa após a extração de esqualeno, cujas propriedades os tornam interessantes para aplicação em novas rações animais, em produtos alimentares para consumo humano e no potencial desenvolvimento de novas aplicações biomédicas, cosméticas, farmacêuticas e nutracêuticas.

Além de esqualeno, a microalga é uma excelente fonte de DHA (ácido docosa-hexaenóico é um ácido oleoso do tipo omega-3, vital para o desenvolvimento e manutenção da saúde) e a sua biomassa é rica em compostos com propriedades antioxidantes que quando extraídos e purificados constituem produtos de elevado valor comercial com potencial aplicação nas indústrias farmacêutica, cosmética e alimentar, sendo esta capacidade antioxidante também um importante ponto de partida para a avaliação da capacidade antitumoral dos diversos extratos e capacidade de fotoproteção para incorporação em cremes solares e outros.

Outro grande objetivo do projeto AlgaValue passa pelo estudo de aplicação de métodos de extração emergentes que potenciam a valorização do processo. A ideia passa por tentar responder a questões relacionadas com a segurança dos compostos selecionados dadas as possíveis aplicações, seja em humanos ou em animais, tendo sempre em consideração a rentabilidade desses processos extrativos.

Por outro lado, a recirculação do meio de cultura exausto, que resulta da produção da biomassa algal reveste-se de um elevado significado não só económico, mas também ambiental. Efetivamente, a sua reutilização representa uma significativa poupança de água do mar, a qual tem de ser transportada para a empresa, além de que evita problemas ambientais resultantes de descargas substanciais de água salgada no meio ambiente. Este efluente, por sua vez, exige um tratamento prévio de modo a eliminar metabolitos produzidos pelas microalgas que, para além de ainda poderem apresentar valor económico, podem também interferir no crescimento das mesmas. Uma vez que representa mais de 90% do volume da cultura de microalgas torna-se essencial a sua reutilização. Neste contexto, para uma significativa sustentabilidade dos processos (custos/ambiente), pretende-se também desenvolver metodologias para a recirculação do meio de cultura exausto resultante da produção de biomassa algal.

O Apoio do COMPETE

O projeto é cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Copromoção, envolvendo um investimento elegível de 1,2 milhões de euros, que resultou num incentivo FEDER de cerca de 803 mil euros.

Links

Depsiextracta: Website

IPMA: Website

IPLeiria: Website | Facebook | Linkedin

Universidade de Aveiro: Website | Facebook | Linkedin | Twitter

 

19/04/2022 , Por Miguel Freitas
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