Val-WRACK: Sargaço como recurso de alto valor numa mudança global. Vale a pena investir neste recurso?

Enquadramento

Devido a eventos de tempestade e ciclos de vida naturais de muitas macrófitas marinhas, como macroalgas e ervas marinhas, quantidades importantes de detritos de macrófitas isoladas chegam às praias arenosas. Os detritos de macrófitas depositadas são vulgarmente designadas como "wrack" ou sargaço em português.

O alto valor do sargaço como fornecedor de nutrientes tem um papel central na ecologia das praias arenosas e não foi esquecido pelo homem que usa este detrito vegetal como fertilizante há séculos. No entanto, até à data, não foi encontrada qualquer valorização adicional para o sargaço, excepto o estudo que comprovou o valor do sargaço na recuperação de salinas degradadas.

As praias de areia são importantes espaços de lazer e turismo. Para melhorar a estética, comodidade e utilidade das praias o sargaço e outros detritos são retirados. Esta estratégia de gestão envolve várias abordagens que vão desde operações manuais até mecânicas, que removem todo o lixo gerado pela atividade humana, bem como detritos de sargaço. Assim, durante o verão, toneladas de sargaço são retiradas das praias arenosas e na maioria dos casos tratadas como resíduos sem qualquer valorização adicional.

O Projeto

Em declarações ao o COMPETE 2020, Marcos Rubal García, investigador do CIIMAR e responsável do Val-WRACK, falou do projeto e dos seus resultados:

    
Marcos Rubal García | Investigador do CIIMAR e responsável do projeto

“Os detritos de macroalgas depositadas nas praias arenosas são vulgarmente conhecidos como "sargaço". O sargaço, desempenha um papel fundamental no fornecimento de nutrientes aos produtores e alimento para os decompositores que vivem nestas praias. Devido ao seu importante papel ecológico, um dos objetivos deste projeto foi explorar os fatores ecológicos que controlam a quantidade de sargaço que chega às praias do norte de Portugal. Mais ainda, estudou-se, pela primeira vez, o papel das comunidades de macroalgas das costas rochosas na abundância e composição do sargaço. Adicionalmente, este projeto também analisou o papel do aquecimento global na alteração da abundância e composição do sargaço, com o objetivo de prever mudanças na abundância e composição do sargaço no futuro.

Foto 1. Acumulação do kelp Saccorhiza polyschides em Vila Praia de Âncora.    
    
Finalmente, de forma a potenciar a valorização do sargaço, e diminuir a quantidade deste recurso que é eliminado sob a forma de resíduo, explorou-se a potencialidade do sargaço como bioestimulante para plantas e alimento para o cultivo do ouriço-do-mar.

Os resultados deste projeto contribuíram significativamente, para um melhor conhecimento dos ciclos de acumulação de sargaço nas praias do norte de Portugal, e como este pode vir a cambiar no futuro. Além disso, o valor do sargaço como bioestimulante para plantas e potencial alimento para o cultivo do ouriço de mar abrem novas espectativas para a reutilização do sargaço recolhido em praias.”

Foto 2. Restos da macroalga do género Fucus na praia de Esmoriz
    
 
O Apoio do COMPETE 2020

Trata-se de um projeto promovido pelo CIIMAR - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental em colaboração com a Universidade do Porto e conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 240 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 204 mil euros.

LINKS

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11/04/2022 , Por Miguel Freitas
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