A propósito do Dia Internacional da Mulher falamos com Luísa Magalhães, Diretora Executiva da Associação Smart Waste Portugal

Luísa Magalhães licenciou-se em Engenharia do Ambiente pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no ano de 2002, tendo  obtido simultaneamente o grau de Mestre em Diagnóstico Ambiental pela Universidade de Cranfield, Reino Unido. Desde  setembro de 2016 é Diretora Executiva da Associação Smart Waste Portugal.
 
 

1. O que a atraiu para este mundo profissional?

As preocupações pela área do ambiente foram uma das principais razões para a escolha da profissão que tenho, Engenheira do Ambiente. Sempre gostei de tentar encontrar soluções para a resolução dos problemas existentes nesta área, principalmente no setor dos resíduos, permitindo que o planeta onde vivemos fique melhor para as gerações que aí vêm. A economia global está a usar cerca de 1,6 planetas de recursos para satisfazer as atuais exigências de produção e consumo e, a este ritmo, serão necessários quase 3 planetas em 2050. Das 11 mil milhões de toneladas de resíduos produzidas em todo mundo, apenas 25% são recuperados e encaminhados para o sistema produtivo. Tendo em consideração estes factos, há muito que tem de ser feito nesta área e existem também muitas oportunidades de negócio, daí ter sido uma das razões da minha escolha por este trajeto profissional.

2. Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto profissional?

O desafio de trabalhar na Associação Smart Waste Portugal (ASWP) foi dos mais relevantes e emocionantes no meu trajeto profissional, pois foi um salto que dei em termos de carreira, podendo apoiar a gestão e o crescimento de uma Associação desde o seu início e numa área de futuro, que é a economia circular. A possibilidade de ter contacto com entidades tão diversas, empresas de todas as dimensões e tipologias, com universidades, associações, entidades governamentais, é para mim muito interessante. Aliado ao facto de poder encontrar soluções e criar negócios entre estas entidades, são aspetos que me gratificam muito. Gosto de perceber os diferentes contextos, a diversidade de problemas das diferentes entidades e apoiar a encontrar a melhor forma de os resolver. Tentar encontrar uma estratégia colaborativa e encontrar consensos é outra das áreas que mais gosto no cargo que desempenho na ASWP.

3. A descarbonização e a circularidade nos processos são imperativos para uma competitividade sustentável. Porque é tão importante o projeto Be Smart - Be Circular?

A Associação Smart Waste Portugal assume a economia circular como tema prioritário da sua atividade, estando consciente de que este poderá constituir-se como uma estratégia conducente à descarbonização e a uma maior competitividade sustentável. Consideramos que a capacitação, a inovação, o eco design e a colaboração, são áreas chave para promover uma transição para uma economia mais circular nas empresas. O Projeto Be Smart-Be Circular, apoiado pelo COMPETE, é um projeto estruturante da ASWP, pretendendo dar resposta a estes desafios. Este tem como objetivo estratégico sensibilizar, dinamizar e capacitar as PME nacionais com relevância para o setor dos resíduos, dotando-as de conhecimento, informação e ferramentas que contribuam para a transformação empresarial, numa ótica de transição para a Economia Circular, com base em atividade e sistemas inovadores que permitam criar um sistema de troca de resíduos e matérias-primas, de modo a maximizar o seu aproveitamento económico, diminuindo a necessidade de extração de recursos e os impactes ambientais negativos associados. Neste sentido, para além das Ações de disseminação e de uma Conferência, foi desenvolvido um Guia de Boas Práticas Circulares para o setor dos serviços, Workshops de Eco Design Circular, um estudo sobre o potencial de desclassificação de resíduos e uma plataforma online para troca de resíduos e subprodutos (myWaste).

4. E qual foi o desafio mais interessante de superar no contexto do projeto Be Smart - Be Circular?

A valorização de resíduos e subprodutos é um desafio para a ASWP. Neste sentido, no âmbito do Projeto Be Smart-Be Circular estamos a desenvolver a Plataforma myWaste, que se define como uma plataforma online para alojamento de uma bolsa nacional de resíduos/subprodutos/FER (Fim de Estatuto de Resíduos), passíveis de serem valorizados, consistindo numa rede Business to Business (B2B) de partilha. Cada entidade poderá gerir e otimizar os desperdícios gerados, sendo que o myWaste oferece funcionalidades para a gestão dos mesmos. Esta Plataforma encontra-se assente num modelo de digitalização, permitindo às empresas registadas realizar transações de uma forma simples, mas dentro de todos os regimes legais aplicáveis. A ASWP pretende que o myWaste seja uma referência em termos nacionais e que permita uma maior valorização de resíduos e subprodutos, rumo a uma maior circularidade.

5. Que outros projetos têm em cima da mesa para contribuir para os objetivos definidos para uma recuperação económica mais limpa e verde?

A ASWP, criada em 2015, tem vindo a afirmar-se como uma entidade de referência no contexto nacional, no processo de transição para uma economia circular, promovendo sinergias e colaboração, a geração de novos negócios baseados na circularidade, criando escala, apresentando tomadas de posição, sendo um parceiro da tutela, produzindo conhecimento e informação e dinamizando vários grupos de trabalho.

Aquando da sua criação, a ASWP promoveu um estudo sobre a “Relevância e Impacto do Setor dos Resíduos numa Perspetiva de Economia Circular”, que incorpora uma caracterização detalhada do setor dos resíduos, em Portugal, desenvolvendo um exercício de cenarização para 2030, bem como as principais áreas de atuação da Associação. Este constitui-se como um motor para as principais áreas a trabalhar por parte da Associação, que, entretanto, acrescentou outras temáticas aos projetos que tem vindo a desenvolver.

A ASWP conta com mais de 140 associados, que têm sido um fator determinante nesta estratégia colaborativa para a circularidade e congrega importantes players nacionais da área dos resíduos, indústria, retalho, academia, municípios, entre outros.

Consideramos que é através de uma estratégia colaborativa, juntando diferentes cadeias de valor, a academia, associações e entidades governativas, que podemos estimular a economia circular, a qual -é um caminho para a recuperação económica mais limpa e verde.

Neste âmbito, a Associação tem vindo a atuar em diversas áreas, através da dinamização de Grupos de Trabalho (GT): setor da recolha dos resíduos, combustíveis derivados de resíduos, plásticos, desperdício alimentar, resíduos de construção e demolição, resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, vidro, entre outras. Nestes grupos de trabalho, são reunidos os principais stakeholders representativos de toda a cadeia de valor do setor e discutidos tópicos de maior relevância, bem como são promovidos a apresentação de projetos de inovação e desenvolvimento, casos de boas práticas e fóruns de participação ativa, promovendo networking entre as diferentes entidades.

Um exemplo bastante concreto de uma atividade resultante destes GT é o Pacto Português para os Plásticos.

O Pacto Português para os Plásticos, lançado em fevereiro de 2020, é uma iniciativa colaborativa liderada pela Associação Smart Waste Portugal e que pertence à rede Global de Pactos para os Plásticos da Fundação Ellen MacArthur. O Pacto Português para os Plásticos une diferentes atores da cadeia de valor nacional do plástico, com uma visão comum e metas ambiciosas para 2025, com o intuito de promover a transição para uma economia circular para os plásticos em Portugal. Atualmente, a iniciativa conta com mais de 100 entidades membro.

Acresce ainda referir que a ASWP está neste momento a preparar o lançamento da Plataforma Vidro+, que é uma iniciativa colaborativa que tem como objetivo criar um compromisso entre os diferentes agentes da cadeia de valor do vidro de embalagem que atuam no mercado nacional, incluindo também entidades governamentais, Universidades e Centros de Investigação, Associações e ONGs, definindo metas e objetivos ambiciosos para promover o aumento da taxa de reciclagem do vidro em Portugal. O Vidro+ tem como visão “Converter Portugal num país de referência na recolha e reciclagem das embalagens de vidro, bem como na incorporação de vidro reciclado na produção de novas embalagens”.

6. A sua experiência com os Fundos da União Europeia… fizeram a diferença? 

Os Fundos Europeus são instrumentos de financiamento fundamentais que suportam as ações das entidades. Estes instrumentos são uma alavanca e um impulso para apoiar a inovação e o desenvolvimento de atividades relevantes e estratégicas nas entidades, que sem estes não seriam possíveis.

Ainda no âmbito do Projeto Be Smart-Be Circular, tendo em consideração a sua importância, foi realizado um webinar de warm-up à Conferência ASWP/Serralves de 2021, intitulado “Be Smart-Be Circular: Que Financiamentos?” que teve como principal objetivo esclarecer os financiamentos disponíveis no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual da UE para o período de 2021-2027.

Para além do Projeto Be Smart-Be Circular, que foi estratégico, a ASWP conta também com o exemplo do Projeto Edifícios Circulares, realizado em parceria com a 3Drivers, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, financiado pelos EEA Grants. Este teve início em maio de 2020 com o objetivo de desenvolver ferramentas de apoio à decisão para promover o aumento da reutilização dos materiais e a redução na produção de resíduos no setor da Construção. Todos os materiais desenvolvidos estão disponíveis, gratuitamente, no site do projeto para consulta e utilização.

Estes financiamentos fazem a diferença e promovem uma maior competitividade das entidades, pelo que é uma das áreas que a ASWP tem estimulado, divulgando oportunidades existentes pelos Associados e promovendo o desenvolvimento de consórcios.

 

Nota biográfica de Luísa Magalhães

Licenciada em Engenharia do Ambiente pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no ano de 2002. Simultaneamente, obteve o grau de Mestre em Diagnóstico Ambiental pela Universidade de Cranfield, Reino Unido, com a aprovação da dissertação da tese em Tratamento Biológico para os efluentes vinícolas, numa empresa produtora de vinhos do Porto.

Em setembro de 2002, integrou os quadros da empresa Sociedade Portuguesa de Inovação, SA, onde exerceu funções de Consultora em projetos nacionais e internacionais, nas áreas da inovação, empreendedorismo, agricultura e ambiente.

Em março de 2004, foi nomeada Assessora do Gabinete do Vereador responsável pelo pelouro de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos da Câmara Municipal de Lisboa.

Em outubro de 2005, inicia a sua colaboração com a Lisboa E-Nova,l - Agência Municipal de Energia e Ambiente, com funções de apoio aos projectos de intervenção, comunicação e informação.

Em setembro de 2016 iniciou funções como Diretora Executiva da Associação Smart Waste Portugal.

07/03/2022 , Por Miguel Freitas
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