SOCIALITE - Arquiteturas, Soluções e Ambiente para uma Internet das Coisas Orientada para as Pessoas

Entrevista com Fernando Boavida, investigador do projeto SOCIALITE. Um projeto que pretende criar uma definição de uma arquitetura de IoT que possa ser utilizada como base de aplicações centradas nas pessoas, em vários domínios como, por exemplo, aplicações em áreas sociais ou aplicações para apoio de pessoas com problemas de saúde, contemplando diversos tipos de utilizadores, possibilitando diferentes formas de comunicação e interação, e garantindo privacidade e segurança.

 

Enquadramento

Apesar do trabalho considerável que tem sido feito recentemente na área da Internet das Coisas (IoT Internet of Things), a maior parte das tecnologias e soluções para acesso a informação do mundo real são fechadas ou para plataformas ou aplicações específicas.

Esforços recentes no sentido de desenvolver arquiteturas para IoT, como sejam a IoT-A, Open IoT, SENSEI, ou FI-WARE, são passos importantes na direção certa mas, ainda assim, não abrangem características importantes para aplicações centradas nas pessoas. As arquiteturas existentes podem ser classificadas como centradas nos dispositivos, centradas nas tecnologias, centradas nos serviços, ou centradas em entidades, em que entidades podem ser igualmente bens, veículos ou pessoas. Assim, por um lado há necessidade de definir uma arquitetura IoT centrada nas pessoas que, assentando nas arquiteturas existentes, vá para além de dispositivos, tecnologias, serviços e entidades e, por outro, de desenvolver um conjunto de blocos, middleware e/ou serviços que possam ser utilizados para construir aplicações ciber-físicas orientadas para as pessoas de uma forma aberta e mais efetiva, numa variedade de domínios.

 

Entrevista a Fernando Boavida …É o investigador responsável do projeto SOCIALITE - Arquiteturas, Soluções e Ambiente para uma Internet das Coisas Orientada para as Pessoas contou-nos, nesta entrevista, quais os fatores diferenciadores, os desafios e o papel que os fundos da união europeia tiveram e têm no projeto que coordena.

Fernando Boavida | Doutorado em Engenharia Informática é, atualmente, Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Informática (DEI) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Foi um dos fundadores do Laboratório de Comunicações e Telemática do DEI e é Diretor Estratégico para as Tecnologias da Informação e Comunicação da Universidade de Coimbra. Os seus interesses de investigação centram-se na mobilidade de redes, redes de conteúdos, desempenho de redes, e redes de sensores sem fios. É autor ou coautor de mais de 150 publicações internacionais (livros, capítulos de livros, artigos em revistas e artigos em conferencias) e 50 publicações nacionais. Participa ou participou em inúmeras comissões de programa de conferencias internacionais e em vários projetos Europeus. É membro sénior do IEEE e membro da Ordem dos Engenheiros. Faz parte do corpo editorial da revista internacional Computer Communications, da Elsevier Science.

 

O que considera ser o elemento diferenciador do projeto em que trabalha?

Um dos principais objetivos do projeto “SOCIALITE - Arquiteturas, Soluções e Ambiente para uma Internet das Coisas Orientada para as Pessoas” é a definição de uma arquitetura de IoT (Internet of Things) que possa ser utilizada como base de aplicações centradas nas pessoas, em vários domínios como, por exemplo, aplicações em áreas sociais ou aplicações para apoio de pessoas com problemas de saúde, contemplando diversos tipos de utilizadores (doentes, cuidadores, pessoal médico), possibilitando diferentes formas de comunicação e interação, e garantindo privacidade e segurança.

O principal aspeto diferenciador do projeto é o foco nas pessoas. Atualmente, fala-se muito em IoT (Internet das Coisas) e muitas aplicações são desenvolvidas a pensar nas tecnologias e nos objetos com que lidam, encarando os utilizadores, ou seja, as pessoas, como elementos estranhos, frequentemente perturbadores do sistema. Contrariamente a esta abordagem, o projeto SOCIALITE pretende desenvolver e explorar arquiteturas IoT que possam ser usadas para o suporte de interações pessoa-pessoa e pessoa-coisa. A ideia é possibilitar uma comunicação mais inteligente, transparente e inconspícua, adaptada ao contexto. Este projeto contribuirá para colmatar o fosso entre as tecnologias IoT e os beneficiários dessas tecnologias.

Um aspeto marcante da metodologia do projeto SOCIALITE é a abordagem abrangente dos sistemas ciber-físicos e da sua utilização no contexto das interações pessoa-pessoa. Para tal, são exploradas três linhas de investigação - conceito, plataformas e aplicações – tirando partido da experiência e conhecimento dos grupos do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC) envolvidos no projeto. A arquitetura resultante representará um avanço significativo do estado da arte, já que suportará o desenvolvimento de middleware, serviços e aplicações de forma rápida e flexível. As aplicações caracterizar-se-ão pela adaptação ao contexto, utilização intuitiva, transparência e independência das tecnologias e dispositivos subjacentes.

 

O sistema científico ainda é pequeno para as necessidades do país?

O problema principal não reside na dimensão do sistema científico, mas sim nas condições que lhe são dadas, ou seja, em última análise, no financiamento. Havendo condições, o sistema científico ajusta a sua dimensão às necessidades da sociedade em geral e do país, em particular. Em minha opinião, não é razoável nem viável avaliar-se o sistema científico pelos mais elevados padrões internacionais quando as condições que lhe são dadas estão muito abaixo das que existem em países que gozam dos referidos padrões. Por isso assistimos, por um lado, a um envelhecimento do sistema científico nacional e, por outro, a uma constante hemorragia de cientistas, que procuram e alcançam no estrangeiro as condições e o sucesso que aqui não encontram. Para além disso, instalou-se a ‘crença’ de que a boa investigação é a que não falha e conduz a resultados imediatos, sejam eles publicações de impacto instantâneo ou produtos acabados, com aplicação imediata, prontos a irem para o mercado. A investigação que tem esses objetivos, mais aplicada, é importante, mas não podemos descurar a investigação de base, eventualmente comportando muitos erros e fracassos, que poderá produzir resultados a 30 ou mais anos e que é fundamental.

 

Empresas e Universidade. Ainda são dois mundos?

Em muitos casos sim, embora cada vez menos. Nesta matéria, nos últimos 20 anos o panorama tem vindo a alterar-se profundamente, devido ao empenho de universidades, empresas e entidades como o COMPETE 2020. Por um lado, as universidades procuram nas empresas oportunidades para novos problemas e desafios, que levem não só à melhoria da formação prestada, mas também a um financiamento complementar das suas atividades de investigação e desenvolvimento, sem o qual muitas não poderiam sobreviver. Por outro, as empresas estão a dar-se conta do enorme potencial das universidades e dos benefícios que a colaboração universidade-empresa pode trazer, num mundo cada vez mais caraterizado pela utilização racional de recursos, pela informação, pelo conhecimento e pela tecnologia. Como elemento catalisador desta colaboração, o papel do COMPETE 2020 tem sido fundamental, proporcionando condições para que dessa aproximação resultem benefícios para ambas as partes, no curto, médio e longo prazo.

 

Qual o contributo do COMPETE 2020 para os objetivos que definiram para o projeto?

O projeto enquadra-se perfeitamente nos objetivos definidos pelo COMPETE 2020 que, através do financiamento concedido, o apoia nas suas vertentes de investigação em tecnologias de IoT e em sistemas cognitivos, desenvolvimento de soluções tecnológicas para aplicações em áreas sociais e da saúde, e desenvolvimento de produtos e serviços inovadores, com impacto nacional e internacional.

 

 

 

 

Projeto

Um dos principais objetivos do projeto SOCIALITE é a definição de uma arquitetura IoT genérica que possa ser utilizada como base de aplicações centradas nas pessoas, em vários domínios como, por exemplo, aplicações para apoio de pessoas com problemas de saúde, contemplando diversos tipos de utilizadores (doentes, cuidadores, pessoal médico), possibilitando diferentes formas de comunicação e interação, e garantindo privacidade e segurança.

Naturalmente, isto requererá o estudo das arquiteturas IoT existentes, a identificação de necessidades e classes, e a identificação de desafios em termos de interoperação, fiabilidade, autoconfiguração, interação pessoa-máquina, segurança e privacidade, entre outros.

Um aspeto diferenciador do projeto é o foco nas pessoas. A este respeito, o projeto pretende desenvolver e explorar arquiteturas IoT que possam ser usadas para o suporte de interações pessoa-pessoa e pessoa-coisa. A ideia é possibilitar uma comunicação mais inteligente, transparente e acessível e adaptada ao contexto. Este projeto contribuirá para colmatar o fosso entre as tecnologias IoT e os beneficiários dessas tecnologias.

Para além da definição da arquitetura, o projeto também tem por objetivo desenvolver middleware e serviços sobre os quais possam ser construídas aplicações orientadas para as pessoas. Estas aplicações explorarão soluções tecnológicas inovadoras, como sejam as redes de sensores, mobilidade e ubiquidade, serviços cognitivos e sensibilidade ao contexto, no contexto da interação pessoa-pessoa.

Por fim, o projeto explorará o middleware e serviços nos referidos contextos com o objetivo de demonstrar a sua aplicação no aumento da autonomia e qualidade de vida dos cidadãos. Para tal, o projeto identificará necessidades e explorará mecanismos para a monitorização, segurança, apoio, localização, sensibilidade ao contexto, autonomia, segurança e privacidade, comunicação e interação entre diversos tipos de utilizadores.

Um aspeto marcante da metodologia do projeto SOCIALITE é a abordagem abrangente dos sistemas ciber-físicos e da sua utilização no contexto das interações pessoa-pessoa. A arquitetura resultante representará um avanço significativo do estado da arte, já que orientará o desenvolvimento de middleware, serviços e aplicações de forma rápida e flexível. Essas aplicações caracterizar-se-ão pela utilização intuitiva, transparência e independência das tecnologias e dispositivos subjacentes, permitindo que os utilizadores se centrem nas aplicações propriamente ditas.

 

Apoio

O projeto é promovido pela Universidade de Coimbra e conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica (SAICT), envolvendo um Investimento elegível de 195 mil euros o que resultou num Incentivo FEDER de 166 mil euros.

 

Informações de Interesse

CISUC | Universidade de Coimbra

26/10/2017 , Por Célia Pinto
COMPETE 2020
Europa