Universidade Católica Portuguesa aposta na produção de novos filtros UV

O projeto UV-FILTERS, apoiado pelo COMPETE 2020, compreende a proteção, via patente, de novos filtros UV e respetivo método de produção, para utilização em produtos cosméticos/farmacêuticos e em artigos têxteis, em particular cremes protetores solares e artigos têxteis protetores do sol.
 
 
1. Síntese
 
Com um enfoque na transição para uma economia circular no sector agroalimentar, este projeto pretende a valorização de espinhas de bacalhau, um subproduto da indústria agroalimentar, pela sua transformação em produtos de alto valor acrescentado com possíveis aplicações em áreas como os cosméticos e farmacêutica, contribuindo para a criação de uma nova economia baseada no desenvolvimento de novos produtos comerciais. O objetivo específico deste projecto consiste no desenvolvimento de um produto capaz de absorver a radiação UV e que pode ser usado como protetor solar, através de um processo simples e que pode ser facilmente aplicado a nível industrial, não requerendo compostos químicos ou equipamentos complexos. 
 
 
2. Projeto UV-FILTERS: Novos Filtros UV e respetivo Método de Produção
 
2.1 Enquadramento
 
Portugal é o maior consumidor mundial de bacalhau, gerando no seu processamento enormes quantidades de espinhas, um subproduto que pode ser valorizado, dado que o seu principal componente é a hidroxiapatite, um fosfato de cálcio com alta biocompatibilidade e bioatividade, amplamente utilizado em biomedicina. Devido a essas propriedades, a HAp apresenta-se como um material muito adequado para a produção de um filtro solar. Na génese desta investigação esteve a preocupação de desenvolver um protetor solar com menor impacto no meio ambiente e que, ao contrário de alguns produtos comerciais, não gerasse radicais livres. Nos últimos anos, foram publicados vários alertas sobre a acumulação de protetores solares convencionais no meio ambiente, por exemplo, nas águas costeiras, especialmente perigoso para os ecossistemas. O uso de protetores solares inovadores à base de componentes naturais pode ajudar a aliviar este problema.
 
O produto produzido a partir das espinhas de bacalhau (FEHAP) é um pó que absorve a radiação UV e, portanto, pode ser usado como protetor solar. Para ser avaliado o seu potencial como componente protetor solar ativo, o produto obtido foi incorporado num creme. No entanto, as potenciais aplicações do FEHAP são mais vastas, estando prevista a sua aplicação na área têxtil e na biomedicina. 
 
2.2 Âmbito
 
Um subproduto da indústria alimentar em Portugal, espinhas de bacalhau, foi valorizado para produzir um produto que absorve radiação UV, através de um processo relativamente simples, porém altamente inovador. Como a HAp, a principal componente das espinhas, não absorve luz UV, foi necessário modificar o material para lhe conferir essa propriedade.
 
O processo desenvolvido envolve a introdução de ferro (Fe) na estrutura HAp.
 
Os espectros UV-vis de FEHAP mostraram que o novo produto absorve em toda a região UV, e também parcialmente na região visível. Sob qualquer irradiação de luz UV ou branca, o pó não mostrou qualquer atividade fotocatalítica, o que indica que não foram gerados radicais livres e/ou outras espécies reativas. Considerando, por exemplo, a incorporação do pó num creme que estará em contato com a pele, esta característica torna o produto mais seguro do que outros protetores solares inorgânicos comerciais, como TiO2 ou ZnO. 
 
O pó de FEHAP foi submetido a um tratamento de moagem para reduzir e uniformizar o tamanho das partículas, sendo posteriormente incorporado num creme. Esse creme também foi capaz de absorver em toda a gama UV e, portanto, poderia ser usado como um creme de proteção solar. Com base nos valores das características de absorção UV selecionadas (crit e UVA/UVB), o creme pode ser classificado com uma classificação de proteção de 5 estrelas no sistema Boots Star Rating. A irradiação do creme não afetou significativamente a suas propriedades de absorção de UV, mostrando estabilidade, uma propriedade essencial para um creme de protecção solar. Para avaliar o potencial de irritação cutânea, o creme foi testado em voluntários saudáveis e os resultados mostraram que não causou formação de eritema ou outras formas de irritação da pele.
 
A solução desenvolvida apresenta características inovadoras, já que, pela primeira vez:
  • Um protetor solar foi fabricado com um subproduto da indústria alimentar - ao contrário de outros protetores solares inorgânicos comerciais, o pó FEHAP absorve toda a gama UV, tanto UVA (320-400 nm) quanto UVB (280-320 nm).
  • Um material em pó feito de HAp, Fe2O3 e Ca9FeH (PO4) 7 foi testado como protetor solar e incorporado num creme.
  • Embora a intensidade de proteção ainda não tenha atingido os comerciais, estando neste momento em estudo o seu melhoramento, para as propriedades descritas acima, o produto tem o potencial de alcançar o mercado.
 
2.3 A Equipa 
 
O projeto foi promovido pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto fazendo parte da equipa Clara Piccirillo, Manuela Pintado e Paula Castro tendo contado também com a colaboração do CICECO – Universidade de Aveiro e da empresa Inovopotek.
 
 
3. Apoio do COMPETE 2020
 
3.1 Sistema de Incentivos
 
O projeto, promovido pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto, foi cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do SAICT - Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica (Propriedade Industrial), envolvendo um investimento elegível de 50 mil euros, o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 42,1 mil euros.
 
3.2 Testemunho
 
Para Eduardo Luís Cardoso, investigador responsável, “este apoio permitiu alargar o âmbito internacional de proteção e dessa forma suscitar outro nível de interesse pela potencial valorização de conhecimento. Está neste momento em exploração a transferência de conhecimento com uma empresa inglesa da área da farmacêutica e cosmética com vista a testar a viabilidade da incorporação do produto desenvolvido nas suas formulações, estando a iniciar testes de avaliação com o pó produzido e estabilizado.
 
O apoio do COMPETE 2020 nesta área é decisivo para o investimento em pedidos de patentes internacionais que são uma contribuição para a internacionalização da ciência nacional e para procurar uma valorização do conhecimento produzido com um maior valor acrescentado.”
 
 
4. Links
 
Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto
  • Website: www.esb.ucp.pt
  • Facebook: www.facebook.com/catolicaportobiotecnologia
  • Twittwer: twitter.com/BiotecCatolica
ANI – Agência Nacional de Inovação
  • Website http://ani.pt/

22/02/2018 , Por Cátia Silva Pinto
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