Cancro: Como travar o processo de metastização à distância?

 
1. Entrevista
 
 

Entrevista a Catarina Gomes

Catarina Gomes, investigadora responsável pelo projeto GLYCOKiller, é actualmente post-doc no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S/IPATIMUP)
Licenciada em Biologia Aplicada pela Universidade do Minho, Catarina desenvolveu o seu doutoramento no IPATIMUP onde o foco do seu trabalho incidiu na descoberta de novos biomarcadores séricos para detecção precoce de carcinoma do estômago. Durante o doutoramento teve a oportunidade de realizar alguns trabalhos no Institute for Biochemistry II Cologne na Alemanha. Obteve o grau de Doutor em 2013 pela Faculdade de medicina da Universidade do Porto.
 
Recentemente esteve a trabalhar como post-doc no Copenhagen Center for Glycomics na Dinamarca e regressou a Portugal em 2017.
Actualmente o foco da sua investigação são as alterações do padrão de glicosilação de proteínas que ocorrem em cancro.

 

O que considera ser o elemento diferenciador no projeto GLYCOKiller?

 
“Sem dúvida que o elemento que eu considero diferenciador neste projeto é o facto de ser um projeto inovador na minha área - Glycobiology”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Quais os resultados concretos esperados no âmbito do projeto?

Em concreto este projeto espera obter resultados distintos. 

Por um lado o desenvolvimento deste trabalho vai possibilitar a formação de alguns estudantes de mestrado assim como, espero, o desenvolvimento de uma tese de doutoramento.
 
Em termos científicos e sociais, estou certa que iremos descobrir um novo composto com capacidade de bloquear a síntese de um antigénio que está envolvida na capacidade metastática de células de cancro. Deste modo, ao bloquear a síntese deste antigénio esperamos travar o processo de metastização à distância, salvando muitas vidas.

 

 

 

Empresas e Universidades. Ainda são dois mundos?

 
Na minha opinião, sim. Por exemplo, na Dinamarca, onde estive um ano como post-doc, existem várias empresas que atribuem prémios a projetos de investigação inovadores. São exemplo disso a Carlsberg. Atribuem financiamento/prémios a projetos inovadores para potencializar a ciência no país sem qualquer interesse económico. 
 
Aqui, infelizmente muito poucas empresas disponibilizam dinheiro para ciência. Grande parte dos investigadores em Portugal só encontra caminho através de financiamento público e desenvolve carreira se estiver ligado à academia.

 

 

Qual tem sido o contributo dos Fundos da União Europeia para o seu trabalho de invstigação?

 

Arrancar como investigadora principal deste projeto é um grande desafio que é encarado com enorme energia e satisfação! De certa forma, é como ver reconhecido todo um percurso de dedicação num mundo cada vez mais difícil e competitivo e o comprovar que ainda há espaço para os jovens cientistas em Portugal. O apoio do programa COMPETE 2020 vai contribuir fortemente para o sucesso deste projeto. Este apoio não só vai possibilitar a aquisição de bens e serviços essenciais para o desenvolvimento do trabalho, assim como para a contratação de pessoas altamente qualificadas. Não tenho dúvidas que com este apoio irei fazer mais e melhor ciência em Portugal.

 

 

 

 

2.  Sobre o projecto
 
GLYCOKiller visa descobrir novos compostos químicos que inibam especificamente a síntese de glicanos (estrutura de açucares) cruciais no processo de invasão de células cancerígenas. 
 
Todas as células contêm na sua composição uma enorme variedade de moléculas que desempenham funções importantes e distintas. De entre muitas moléculas, temos as proteínas que podem-se encontrar quer no interior, à superfície ou até mesmo secretadas pelas células. Mais de 50% das proteínas são modificadas durante ou após a sua síntese, com a adição de açucares num processo denominado de glicosilação. Glicosilação é um processo enzimático extremamente controlado que leva à síntese de estruturas de açucares cruciais para o desempenho da função das proteínas. Durante a transformação maligna das células este processo encontra-se desregulado levando à síntese de estruturas de açucares aberrantes e especificas de cancro. Estas estruturas aberrantes desempenham um papel importante na progressão tumoral estando envolvidas no processo de metastização à distância. 
 
Tendo como ponto de partida todo este conhecimento, assim como muitas das descobertas levadas a cabo pelo grupo Glycobiology in Cancer, liderado pelo Prof. Celso Reis, de onde a Doutora Catarina Gomes faz parte, este projecto incide na descoberta de novos compostos com potencial terapêutico em cancro. Em suma, irá ser desenvolvido um hight throughput screennig usando uma biblioteca de compostos químicos aos quais ainda não se sabe a sua função/capacidade como inibidor da glicosilação e potencial utilização como droga no tratamento de cancro. Para tal, iremos usar um painel diversificado de linhas celulares de cancro que apresentam na sua superfície proteínas com estruturas de glicosilação aberrantes. A biblioteca contém cerca de 55 000 compostos e contará com a colaboração do Doutor Petr Bartunek da Republica Checa. No final, iremos validar os compostos eficazes, com potencial terapêutico na prática clínica para o bloqueio das células metastáticas.
 
 
3. Apoio do COMPETE 2020
 
O projeto “GLYCOKiller: Identificação de Novas Drogas Glicoespecíficos para Combater a Metástase de Células Cancerígenas “ é cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, na vertente em co-promoção, com um investimento elegível de 1,2 milhões de euros, correspondendo a um incentivo FEDER de 827 mil euros.
 
4. Links úteis
 
IPATIMUP - Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto

 

18/09/2018 , Por Cátia Silva Pinto
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